O saramugo (Anaecypris hispanica, Steindachner, 1866) é um pequeno peixe da família dos ciprinídeos, uma espécie endémica do setor meridional da Península Ibérica. O corpo é fusiforme e comprimido lateralmente, apresenta escamas pequenas e finas e a sua coloração de tons prateados e rosados tem pontuações negras nos flancos. A cabeça é pequena, com olhos grandes que quase tocam o perfil dorsal da cabeça e boca supra. As fêmeas geralmente apresentam maiores dimensões que os machos.
A sua dieta baseia-se em pequenos invertebrados bentónicos, zooplâncton, podendo ingerir material vegetal (e.g. plantas e algas) e detritos.
A nível nacional as populações desta espécie apresentam um declínio continuado sendo que se estimava um efetivo populacional superior a 10.000 indivíduos maduros segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Estima-se que a população tenha decrescido cerca de 50% nos últimos 5 anos e possa sofrer uma redução de cerca de 80% num período de dez anos, sendo que nalgumas subpopulações o número de efetivos já estará abaixo do limiar de sobrevivência da espécie.
Em Portugal, o saramugo está classificado como “Criticamente em Perigo”.
À escala da União Europeia, o Saramugo é uma espécie de interesse comunitário, incluída no Anexo II e IV da Diretiva Habitats. A nível global o estatuto atribuído pelo IUCN é de “Em Perigo” (Crivelli, 2006), tal como em Espanha (Doadrio, 2001).
O saramugo tem um ciclo de vida curto, com uma longevidade máxima registada, na natureza, de 3 anos, a sua maturação sexual é precoce (no final do primeiro ano de vida) e realiza posturas fracionadas.
Estas características estão relacionadas com o regime intermitente característico das linhas de água mediterrânicas onde a espécie ocorre, em que a água é abundante durante o inverno, e escassa durante o estio.
As migrações reprodutivas decorrem, geralmente, entre Abril e Maio, com a deslocação para montante dos indivíduos maturos, para zonas em direção a setores fluviais (locais de reprodução/alevinagem) de maior caudal e profundidade mais reduzida. Posteriormente, os alevins/juvenis deslocalizam-se-para setores inferiores dos cursos de água, com maior disponibilidade de alimento e menor variabilidade ambiental onde efetuam o seu crescimento.
Assim, esta espécie requer dois tipos de habitat específicos e está dependente da conectividade entre os mesmos.